Histórico

Um pouco de história e dos porquês da Nova Boca do Lixo:

A Nova Boca do Lixo surgiu em meados de 2001 na região do Grande ABC paulista por um grupo de estudantes de cinema digital, como resposta a estética colonizada que é infelizmente identificada pelo grande público, e, não alcançada pelo cinema nacional. Uma estétiqué pequeno burguesa pregada com os martelos do capitalismo selvagem.

Esta também foi uma fase de transição política, onde um candidato a presidência da esquerda, o Lula, pela primeira vez subiu ao poder. Época também em que vivíamos a dita "retomada do cinema nacional", sem grande adesão do público mas com uma relativa abertura de investimentos e aumento das produções até então. A partir do governo Lula, os investimentos no cinema, tanto e relação a “distribuição de dinheiro”, quanto ao decreto de leis que o favoreciam como por exemplo, a do aumento de cotas de exibição para filmes brasileiros, o cinema nacional só teve a crescer, mas, surgiram algumas perguntas. Por que as pessoas não vêem? Por que se fosse uma mega produção americana, o pobre e o rico sairiam de casa pra ver? Por que passamos mais tempo querendo comer, trabalhar, ver televisão e dormir, do que ver um filme, ou uma peça de teatro, um pouco de cultura, e de preferência nacional, com nossa identidade, da nossa estirpe, pra nossa estima e com nosso pedigree. Será a violência que não nos deixa sair de casa, será a propaganda da margarina, será um medo de ver a realidade atolada de véus, assolada de guerras, destruição, corrupção, individualismo, falsos credos, alienação e condução de gado? Ou será ainda por causa de uma imagem ditada por um conceito com muito interesse e poder no mercado?

O fato é que a força de comunicação de um Estado que detem o mercado, causa também um monopólio cultural-ideológico. Matam as raízes dos povos subjugados, impondo seus valores e cultura através do sistema de mercado capitalista. Os interesses econômicos sugam as divisas e a mentalidade do povo que não detem o poder financeiro, e, mesmo sendo situações de povos e culturas bem diferentes, acabamos por querer viver o laissez fair e o americam way of life, que são valores de mercado, sem nenhum tipo de valorização a identidade cultural brasileira. Acabamos por financiar e manter este ciclo de consumo, de forma passiva e inconseqüente. Acabamos, nós mesmos, matando nossas raízes.

Pegando como exemplo e tendo em vista a nossa região, principalmente a cidade de Santo André, onde ocorrem várias atividades culturais, o público é pequeno, não cresce e nem varia muito. Constatamos então que número de pessoas que participam dos eventos, que freqüentam teatro, ou cinema em relação ao numero de habitantes da cidade é ínfimo. Será um total desinteresse ou falta de dinheiro para o transporte?

Começamos a partir destes questionamentos a observar o contexto social contemporâneo junto a estética da imagem, a narrativa dos filmes brasileiros atuais, e também dos dois movimentos de cinema básicos que ocorreram no Brasil: O Cinema Novo e o Cinema Marginal.

O Cinema Novo se considerarmos como marco inicial 1955, data de “Rio 40 graus”, de Nelson Pereira dos Santos, e 1980 como o ano em que o movimento chega ao fim, com “Bye, bye Brasil”, de Carlos Diegues, ou “A idade da terra”, de Glauber Rocha, que, no ano seguinte, viria a falecer. O Cinema Novo teria durado 25 anos. Estas datas, no entanto, dizem muito pouco. Nada começa e termina com essa precisão, em se tratando de um movimento artístico. Na realidade, o que “Cidade de Deus” faz hoje é retomar o lado mais ideológico do Cinema Novo. Não mais a sua estética.

O Cinema Marginal corresponde a um período(1968/73) em que as mudanças socioculturais tiveram reflexo profundo nas artes e conseqüentemente influenciaram na busca de inovações na narrativa fílmica.

O Cinema Marginal se confronta com a geração cinemanovista no que se refere a uma apropriação de elementos da contracultura e a abertura para um diálogo lúdico e intertextual com o classicismo narrativo e o filme de gênero hollywoodiano.

Entretanto, à medida que o grupo do Cinema Novo entra em contradição no que diz respeito à liberdade do autor e a busca de ampliação de mercados de exibição, os autores marginais se distanciam deste e radicalizam seu discurso.

Analogamente hoje podemos comparar o Cinema Novo com o PT, quando moralmente “pregam” uma coisa e praticamente fazem outra. O Cinema Marginal são os anarquistas, que não aceitam conduta e muito menos sua falha, na falta de compromisso.

Neste sentido a Nova Boca do Lixo vem "limpando as farpas", utilizando-se da tecnologia digital, da estética global e do discurso político-social, mesclando a poesia, o romance e a narrativa clássica.

As primeiras experimentações deste grupo heterogêneo, formado por advogados, jornalistas, publicitários, médicos, sociólogos, pedagogos e psicólogos, foi a introdução técnica-prática de onde surgiram os primeiros curtas-metragens de caráter experimental: 30 anos em 3 minutos, Bipolar, Contrates, Persona, Labirinto, Cine-Tangará, Casarões, Lapso(ainda não editado) e Fugas.

O principal objetivo deste grupo de cineastas é o discurso ideológico sobre o comportamento humano na sociedade e a ação política, na busca de levantar discussões e interferir no meio onde produziriam. Num primeiro momento, foram em busca dos meios de produção possíveis e o melhor que se poderia fazer com o conseguido (dando inicio ao período experimental, dado que o conhecimento técnico seria absorvido na prática direta), sempre buscando a estética globalizada e de fácil assimilação pela sociedade com valores da massa, e ainda, neste momento, a busca de espaços alternativos para exibição. A construção de roteiros veio num segundo momento, buscando expressar os ideais do grupo de fato, roteiros que questionassem de forma agressiva a situação degradante do meio social. E para um terceiro momento, a questão da divulgação e público-alvo, literalmente.

O grupo em construção e as próprias relações humanas foram “filtrando as farpas”, focando na essência ideológica. A discussão filosófica volta à tona, principalmente no que diz respeito aos valores humanos, e a proposta é de rompimento total com a história e com as teorias passadas, sustentando apenas a estética da imagem como elemento primeiro de identificação com a população.

Diz-se ainda ser um movimento de "cinema de guerrilha", o que não podemos negar por ter uma ação de questionamento social contundente, mas o objeto principal é a transformação das relações humanas com o meio e com o próximo, agindo na região inserida, destruindo conceitos reacionários e construindo valores sobre a realidade brasileira contemporânea, sob as bases ideológicas criadas a partir da observação da ordem social, pela preservação do meio-ambiente e pelo desenvolvimento sustentável.

A base ideológica vem de tendências anarquistas e comunistas, altamente libertadora e ao mesmo tempo rígida em suas diretrizes, onde uma das quais é a que os valores e direitos de cada indivíduo devem sobrepor-se as ordens sociais. Sendo assim, a proposta de investigação do campo social e os campos de pesquisa uma área tentadora a Sherlocks e afins.

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Transformação dos valores humanos individualistas
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